quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Missão Espanha-Inglaterra 4: CCRTV TV pública da Catalunha

A impressão da TV da Catalunha é muito semelhante à de Valência, confirmando as opiniões acima. Mas a visita acrescentou alguns aspectos importantes.

Estão preocupados e focados com o Connect TV, não só como modelo de negócio, mas como uma espécie de obrigação de continuidade do projeto da TV pública. “O acesso fácil e gratuito é o mais importante para nós”, independente da plataforma usada. Neste sentido, investem em IPTV, em VOD, novas marcar e conteúdos adaptados às novas mídias, inclusive imaginando também modelos de negócio para elas, como a adaptação de suas séries em versões de 3 minutos para serem exibidos no celular.

“Novas TIC não são para reproduzir o que já tem nas tecnologias anteriores, mas fazer uma troca cultural”. Tal afirmação poderia muito bem servir de bússola para as emissoras universitárias.

Assim como outras importantes dicas:

  • trocar a unilateralidade pelo diálogo com os telespectadores;
  • novas plataformas são novas mídias e, portanto, tem novas formas de trabalho;
  • o negócio da emissora não é criar novas TIC, mas “comprá-las” e adaptá-las para a missão principal da emissora;
  • mas o negócio da emissora pode ser o licenciamento de sua marca (um celular vendeu 5.000 e um PC, 1.000, números ainda baixos mas que mostram a potencialidade);
  • os consoles de games também estão sendo pensado para utilizar como plataformas de exibição e interatividade com as emissoras, algo não utilizado no Brasil (mas que poderia ser, no mínimo, para interagir com os jovens).
  • a missão de uma TV pública, além de informar, fomentar cidadania etc, é também entreter;

Neste sentido, não há o pudor brasileiro de exibir filmes comerciais (cada vez mais fáceis de serem negociados, de acordo com os dirigentes), como Crepúsculo e séries norte-americanas. O benefício é atrair o público para assistir as demais produções locais e de real interesse da missão da emissora. Que, por sinal, também mantêm 60% de programação própria.

Outra parte importante é a comercialização do canal. No Brasil, por conta da pressão das emissoras comerciais, mas também por excesso de pudor com a educação (que não pode ser maculada pelo capitalismo publicitário), nem se discute alternativas de comercialização de seus espaços. Pois lá é uma questão socioeconômica: se não houver o espaço para o comerciante local, há uma concorrência desleal com o empresário nacional, com sua propaganda nas grandes redes. Na Catalunha, acrescenta-se a questão da língua local. Se não houver um espaço local, não há como desenvolver um segmento publicitário catalão (com agências e fornecedores).

Essa é uma reivindicação de uma pequena parte das emissoras do campo público, mas marginalizada, inclusive, pelos demais pares. A emissora catalã, e a legislação regional, adotam os mesmos critérios reinvidicados por esse pequeno segmento: comercialização dos intervalos com diferenciais das emissoras comerciais, tanto quanto aos conteúdos (excluindo bebidas alcoólicas, cigarros etc) como no tempo dedicado aos espaços publicitários. No caso da emissora, eles exibem apenas 8 minutos de intervalos por hora, embora a legislação permita até 12 minutos. “Fazemos isso justamente para reafirmar a diferenciação com as TVs comerciais e a validade da normatização”.

A visita também foi mais um cravo no caixão da interatividade como foco da TV Digital espanhola. “Na Espanha, a interatividade na TV Digital já nasceu morta”. O canal de retorno para as poucas propostas de interatividade em tempo real ainda é o telefone. Mas os representantes do canal acreditam que a internet logo tomará o lugar, passando ao largo da TV Digital.

Outros dificultadores: o público não quer pagar para ter interatividade; há poucos aplicativos (seria um bom mercado para uma possível indústria brasileira?), poucos set-top-boxes e, também, há outros sistemas mais eficientes.

Também eles estão em negociação com as fabricantes de aparelhos de televisão. Mas contam que o início das negociações foi, no mínimo, inusitado: “quando sentamos, nenhum dos dois sabiam se iriam cobrar ou pagar pelo serviço do outro”. O que se desenha – e imagino que o modelo deve chegar ao Brasil – é que as TVs seguirão a telefonia celular onde cada aparelho virá com um pacote embarcado de conteúdos pré-definidos. Algumas fabricantes já vendem aparelhos de TV com acesso à programação da CCRTV. “Estamos reescrevendo os negócios”.

Nos modelos de contratação, os macronegócios serão substituídos (ou complementados) por microfinanciamentos. “Menos pessoas, mais serviços”. Assim, as possibilidades de negócio deverão ser mais flexíveis, dar continuidade, não ter exclusividade, ser especialista e ter “conhecimento interno e ‘músculo’ externo”.

Alguns princípios importantes: entender os vetos de cada um e buscar soluções para eles. Ter uma tecnologia de fácil adoção, que possa ser trocado constantemente sem prejuízo para o usuário. “Tecnologia é mais estratégico que em outros setores”.

As universidades têm a relação clássica: a emissora recebe alunos, têm convênios, mas não há produção de conteúdo, exceto alguns produtos finais de um MBA, exibidos por um tempo.

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