quinta-feira, 24 de março de 2011

Missão Espanha-Inglaterra 10: BBC

Não acredito ser necessário listar aqui todas as qualidades da BBC, ratificada na visita e pelos seus profissionais, como a confiança de seu público em sua emissora e a qualidade de sua programação.

O importante é que, de todas as visitas, são os que mais estão entusiasmados com a interatividade. Estão investindo muito em seu site, atualmente o terceiro serviço depois da TV e do Rádio.

Todos os programas têm que ter extensão na internet e o programa de metadados é automático. Aliás, algo a aprender pois noto que, no Brasil, a questão do metadados não está sendo muito focada, cada um criando o seu. Ora, para que possamos interagir todos os conteúdos, será necessário uma base única para que todos pudessem se enxergar e serem vistos. Seria uma boa proposta para uma política de governo?

Na “Blue Room”, sala onde estão expostas as várias maneiras possíveis de interatividade, comprova-se a preocupação da emissora em testar todas as possibilidades nos equipamentos disponíveis: set-top-boxes de várias origens, consoles de games, tablets, celular.

Mas os aplicativos para a tal interatividade também não têm muito de originais. A interatividade não vai além de formatos de entretenimento como jogos com perguntas em forma de menu nas laterais dos programas. Ou com o Bamzooki, programa voltado para jovens, uma mistura de reallity show com gincana. Uma vez mais, nada foi mostrado sobre inclusão social ou o uso do espectro para tal fim. Sendo a principal emissora pública no mundo, é uma pena!

No entanto, listaram algumas importantes dicas para se fazer um programa interativo de sucesso:

  • construir uma nova marca para online e TV;
  • manter interfaces entre as plataformas;
  • faça fácil para entrar e sair;
  • faça fácil para se envolver;
  • faça fácil para estar envolvido;
  • faça da audiência seus principais defensores;
  • tenha um plano de continuidade;
  • “conversar é o rei”;
  • ter cuidado com o timming;
  • continuar pesquisando;
  • os fans são os verdadeiros donos;
  • ser divertido ver e ser divertido jogar;
  • procurar o engajamento, que as pessoas possam escolher que lado querem estar.

Também já fazem uso pleno da multiprogramação, com diversos canais sendo oferecidos no espectro. Um canal mais popular, outro “um canal para pensar”, o terceiro para jovens e um quarto “mais científico”, entre outros. Uma vez mais, digo, algo proibido por aqui.

Investem muito na marca BBC e nas marcas subseqüentes, inclusive as marcas virtuais.

Quanto o contato com as universidades, também não têm fortes ligações, principalmente para produção de conteúdo. Mostraram-se sinceramente espantados com o número de IES que produzem conteúdo no Brasil e demonstraram interesse em conhecer, o que pode ser uma ótima oportunidade de negócio para nós.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Missão Espanha-Inglaterra 9: S & T

Uma empresa independente de produção de softwares para aplicativos com TV Digital interativa, broadcasting e cabo. Com 50 empregados, pode ser exemplo de tipo de empresa a ser fomentada no Brasil: pequena, focada e preocupada tanto com o mercado interno quanto o externo.

A visita ratificou que o middleware MHEG-5 é, certamente, mais internacional que o nosso estando em vários países do Reino Unido. Mas, assim como citado nas visitas na Espanha, não é uma unanimidade, assim como não o é o americano. O que pode ser uma oportunidade de crescimento do nosso próprio, das aplicações e de suas melhorias a partir dos problemas apontados ao demais.

A empresa mostrou as várias aplicabilidades para a TV Digital mas nada muito original e que já não tenhamos, se não previsto, já implantado: guia de programação, VOD, informações em menus laterais, seleção de cenas, hipertexto, publicidade interativa, compras, games. Nada de inclusão social, por exemplo.

O canal de retorno é, geralmente, o telefone. Ou seja, pago.

Eles têm projetos específicos para o carrossel, algo que tenho ouvido pouco por aqui (o que não quer dizer que não exista, é claro).

Não acreditam muito na expansão do connect TV, a não ser pelo que já existe. A conectividade desejada pelo telespectador de TV já é disponível na TV e o connect não irá trazer mais novidades. Além disso, assistir TV é diferente de estar à frente de um PC. Essa é, inclusive, uma opinião de vários especialistas visitados na missão: ainda vamos continuar gostando de ver TV de maneira passiva, com pouco ou nenhuma necessidade de que tenhamos uma postura interativa. Apenas assistir sentado no sofá ou deitado na cama. Enquanto o PC sempre exigirá uma interatividade, impossível de se manter a todo o momento. Vai haver uma certa convergência (busco alguma informação ou uso um leque limitado de interatividade no programa regular de TV, assim como posso assistir episódios de televisão na tela do computador), mas ainda serão mídias distintas. “A BBC tem programas interativos, mas as pessoas usam pouco”.

O que muda mesmo na TV é apenas a programação vinda da emissora. Neste sentido, as pessoas certamente vão fazer sua programação, assistir seus programas nas horas mais adequadas ao seu cotidiano, mas ainda assim a partir de uma grade oferecida pela emissora, dentro do seu fluxo de produção e veiculação.

“Interatividade na TV é sobre conteúdo. Tecnologia é para capacitar”. É uma mantra, haja vista, européia, embora dita nesta visita. Temos de ficar atentos, não para negá-la, mas para pensarmos que devemos aplicá-la inteiramente: não esquecer que os aplicativos que serão mais procurados serão justamente os ligados aos conteúdos, mas que temos a obrigação de explorar também sua aplicabilidade enquanto capacitação de, no mínimo, para a cidadania. Nada, inclusive, que já não estivesse previsto no decreto inicial da TV Digital.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Missão Espanha-Inglaterra 8: Universitat Pompeo Fabra


Dentro do Distrito 22, em Barcelona, centro com 20 quadras de empresas de comunicação, centros acadêmicos, emissoras de radiodifusão, a universidade se dedica ao estudo do setor, inclusive com um doutorado em comunicação. Tem também um observatório de produção audiovisual focado na Catalunha. Um bom exemplo do uso da rede mundial que, ao mesmo tempo preserva e mantêm em um sítio algo de grande importância regional, ao mesmo tempo o deixa a disposição para a comunidade planetária. Seria possível fazer algo semelhante somente da produção audiovisual universitária? Ou mesmo só de Belo Horizonte, por exemplo? Seria algo importante a ser fomentado?

Investigam especialmente a documentação digital e a comunicação interativa, ambos assuntos mal tocados pela academia brasileira. Certamente, podem ser também pela academia européia e somente eles (ou poucos deles) façam isso. Mas , no mínimo, uma janela para convênios e intercâmbios acadêmicos.

Estão agora discutindo a transmídia. Mas, do meu ponto de vista, me parecem apenas que estão iniciando enquanto no Brasil já há grupos mais avançados.

É uma universidade com produção audiovisual, o que nos interessa diretamente, mas não com o fluxo necessário para se caracterizar como televisão ou uma produtora independente. No entanto, cobram para produzir de algumas empresas interessadas, e remuneram os estudantes com isso. Certamente, tudo dentro de um protocolo. Algumas televisões universitárias brasileiras já fazem isso, mas em um número bem menor do que seria necessário. As nossas universidades que produzem TV ainda não despertaram para esse modelo de negócio. A ABTU ainda tateia nesta direção.